quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Eternamente!?

No ano de 2003, resolvi estudar história de uma forma um pouco diferente. Pensava em criar um personagem que vivenciaria os momentos históricos estudados em sala de aula e escreveria sobre suas experiências. Assim se iniciou o livro "Eternamente!?".
A idéia inicial não foi preservada. Em seu lugar foi criada uma história fictícia. Em um tempo e espaço fictícios também.

Felizmente todos os meus críticos (até então, apenas alguns grandes amig@s) gostaram e apoiaram a construção deste livro. Portanto resolvi postar a primeira edição dele. Neste post contém apenas o primeiro capítulo. Mantendo-se, inclusive, os erros gramaticais de quando foi escrito, poucos.. mas existem. A última edição contém 7 capítulos e cerca de 50 páginas. Um bebê ainda. E este primeiro capítulo está bem modificado.


Capítulo 1 - Novos Conceitos

Nos primórdios da humanidade, quando se supõe que o homem desconhecia as causas e conseqüências dos fenômenos naturais, inclusive dos mais simples como a oscilação da maré, surgiam focos de civilizações nômades onde as leis eram estabelecidas pelos guerreiros mais fortes, corajosos e hábeis, na grande maioria dos casos desconsiderava-se a sua capacidade intelectual. Nesta época se acreditava que as pessoas mais bem dotadas com privilégios de uma natureza sábia e racional eram feiticeiras por possuírem conhecimentos suficientes para prever acontecimentos e agir com prudência no meio da maioria imprudente. Este diferencial, quando usado sem cautela, causava inveja e descontentamento de seus superiores que induziam perseguições. O guerreiro, após assumir o posto de líder do clã – seja por consentimento de seus companheiros ou por imposição -, estaria apto a organizar todo o grupo da maneira que achasse mais conveniente em diversas situações: brigas com outros clãs, geralmente motivadas pela oferta irregular de água e alimento em uma determinada região; ataque a presas e fuga dos predadores entre outras ocasiões de vital importância.
O clã era composto pelo líder, já descrito como o homem de atributos físicos mais bem desenvolvidos, abaixo hierarquicamente seus familiares que exerciam certa autoridade sobre os demais membros daquele conjunto, que era composto de aliados e prisioneiros oriundos de outros clãs. Alguns grupos possuíam animais domesticados. Havia grande desigualdade no número de integrantes de um clã para outro, chegando a ponto de grupos com invejável coragem e determinação sucumbirem de pavor ao se verem completamente cercados por um segundo grupo de incomparável grandeza.
A humanidade estava passando por uma fase de incomensurável importância para o seu futuro, um período onde povos juntamente com sua peculiar cultura serão dizimados por completo da face da terra, enquanto outros estarão se aproximando da tão utópica quanto quimérica eternidade.
Neste momento alguns clãs se fortalecem e expandem os umbrais de seus territórios às custas da degradação e aniquilação de outros grupos, inferiores quanto ao seu conhecimento e força.
Entretanto havia um clã que se diferenciava dos demais pela sua maneira de arranjo da hierarquia. Primeiramente não se tratava de apenas um líder, mas sim de um pequeno grupo que ficava responsável pelo julgamento de questões importantes. Este era escolhido primeiramente a partir de suas condições físicas concomitantemente às suas peculiaridades intelectuais voltadas para o planejamento bélico. Este clã de interessantes peculiaridades era conhecido como Yophs, nome oriundo de uma rara ave distinta das demais devido a incrível capacidade de caçar tanto durante a noite, cabalística e traiçoeira, quanto durante o dia, quente e úmido, características dessa região cercada ao oeste por um belo porém traiçoeiro mar e ao leste por uma irregular região montanhosa seguida de um deserto tão letal quanto o mar do oeste. Assim como ao sul, ao norte via-se uma floresta não muito densa, de árvores de várias espécies.
Iniciava-se naquela manhã nublada uma cerimônia para a escolha de um novo líder, que vai substituir o antigo que abdicou de seu poder alegando estar velho, cansado, cego perante ameaças que rondavam o grupo, em fim, impossibilitado de exercer suas funções com o mesmo vigor de outrora. Muitos membros do clã protestaram, afinal Mugí – nome do atual líder - era forte, corajoso e sábio o suficiente para conduzir um medíocre grupo de indivíduos sem perspectiva cultural a um forte clã com tradições próprias e de admirável força em comparação aos demais clãs da região. O poder de persuasão de Mugí foi suficiente para convencer a maioria daqueles indivíduos politicamente ativos que pertenciam àquela comunidade ímpar que apresentava princípios de democracia.
No segundo quarto de manhã daquele dia – agora tão nublado quanto chuvoso – foi executada a primeira seleção dos candidatos ao tão cobiçado status de líder. A primeira fase de eliminação, como segue a tradição, foi feita pelo líder vigente. Após analisar cuidadosamente cada participante, Mugí, que também possuía o título de curandeiro, desaprovou alguns guerreiros por serem jovens demais, outros por terem idade muito avançada, aprovando apenas cinco jovens guerreiros que tinham entre dezesseis e dezenove anos, fortes e sadios para o teste. Vale ressaltar que este número de candidatos aprovados nesta primeira fase foi o menor já visto naquele clã. Mugi aparentava estar ansioso para deixar o seu prestigiado cargo e suceder suas responsabilidades para outro integrante daquele grupo.
A segunda fase consistia em uma demonstração competitiva de força, onde os jovens devem erguer um peso maior que o do seu oponente, utilizando troncos de árvores encontrados na praia – aliás, uma praia de um mar que apresentava uma rebeldia e fúria muito difícil de ser presenciada, mesmo em dias chuvosos como aquele. Neste teste foi eliminados dois jovens, o mais novo de dezesseis anos, e o mais velho de dezenove anos. Restam agora somente três guerreiros, um de dezessete anos e dois de dezoito anos de idade.
Após uma não muito curta caminhada floresta à dentro, foi apresentado aos candidatos o terceiro processo eliminatório. Eles deveriam se aprofundar ainda mais na floresta em busca de um cipó que tivesse ao menos cinco e não mais que seis vezes o seu tamanho. À medida que eles adentravam na floresta, esta ia ficando mais densa, escura, úmida, e perigosa. Sabiam que somente próximo ao centro encontrariam os cipós mais resistentes e longos o suficiente para atender as exigências de Mugi. Porém sabiam também que quanto mais resistente fosse o cipó, maior seria o seu poder de absorção de água, e naquela manhã chuvosa os cipós deveriam estar tão pesado quanto difíceis de serem encontrados. Tinham que se preocupar, além dos perigos naturais, com o prazo que Mugí havia estipulado para estarem de volta até o início do último quarto da manhã, ao mesmo tempo em que se emaranhavam em uma selva de dúvidas ao que se diz respeito à finalidade dos cipós.
Nessa primeira parte do terceiro processo eliminatório nenhum candidato foi desclassificado, todos chegaram a tempo e com seus respectivos cipós. Mugí pediu então que os jovens amarrassem uma ponta do cipó aos seus respectivos tornozelos de melhor apoio, depois subissem na árvore de sua escolha levando consigo uma espécie de faca, e amarrassem a outra ponta do cipó à copa da árvore escolhida. Iniciava-se o teste da coragem de cada candidato, uma das maiores virtudes de um guerreiro.
Todos os candidato aceitaram o desafio, mesmo depois que Mugí lhes contou que deveriam se atirar da árvore e, se tiverem a sorte de ficarem dependurados, deveriam descer cortando o cipó. Mugí esperava que pelo menos um dos candidatos desistisse, forçando uma eliminação se colocar a vida de nenhum deles em risco, porém ele tivera a surpresa de nenhum candidato desistir de se tornar líder. Depois de pensar por alguns minutos decidiu dar continuidade àquela arriscada prova.
Aqueles membros do clã que concordaram com Mugí quando ele afirmava estar velho e não habilitado para exercer com perfeição as funções de um líder, e entenderam que um dos jovens de dezoito anos não estava apto a passar pelos exigentes olhos de Mugí por estar um pouco à cima das condições ideais de peso (primeira hipótese para justificar o rompimento do cipó e a inevitável tragédia) estavam completamente enganados. A fatalidade do jovem ocorreu devido à sua própria imprudência associada a sua falta de dedicação, o guerreiro de curta visão não se infiltrou o suficiente na floresta, não se preocupou em escolher cuidadosamente o se cipó mais resistente como lhe foi orientado e não soube avaliar o momento certo de desistir do seu sonho, estava sendo tolo enquanto acreditava estar sendo corajoso ao aceitar saltar daquela árvore. Um triste suicido.
Após esclarecer o ocorrido e realizar as devidas cerimônias e homenagens àquele corajoso, porém tolo jovem guerreiro, decidiu-se que a prova que finalmente decidiria o futuro líder seria realizada no primeiro terço de manhã do dia seguinte.

continua...

--cassioso